*Relatório sobre Coletiva realizada em Sala de Aula
Em 2010, um projeto jornalístico revelou um enredo sobre mulheres excepcionais e a beleza da cultura cearense. Germana Cabral e Cristina Pioner são as jornalistas que investiram, com o apoio do Diário do Nordeste, em um trabalho de fôlego que pode se tornar um marco na imprensa local. Convidadas para falar sobre jornalismo cultural e jornalismo segmentado, Germana e Cristina voltaram a seu rebento mais famoso: Mãos Que Fazem História.
Desde os tempos de repórter a editora Germana Cabral já namorava uma pauta sobre mulheres e artesanato. A oportunidade surgiu no caderno Eva, suplemento do DN dirigido ao público feminino. Sua cúmplice, a repórter Cristina Pioner, resume o objetivo do trabalho: "a gente queria pegar mulheres com suas histórias". E as personagens foram recrutadas de todas as bandas do Ceará: 71 municípios, ou seja, 1/3 das cidades cearenses. "A gente queria mesmo é se embrenhar", conta Germana.
Em 11 mil quilômetros de viagem, Germana, Cristina & Cia. mapearam o artesanato produzido pelas mulheres da Terra do Sol: a fibra de Jaguaribe, as jóias de Itapiúna, as bonequinhas de pano do Crato. "Hotel? Bem...Hotel de interior vocês não queiram saber como é... Foi uma experiência meio punk", lembra Cristina. Mas, com a ousadia do pescador cearense, elas vão longe em busca do seu peixe. E dessa vez o pescador mordeu a isca: "Agora mesmo ligou a Glória e a Eridan, que são duas fuxiqueiras, pra dizer 'olha, eu tô na CasaCor'. Esse negócio de não se envolver com a fonte não deu, não", declara Germana, rindo.
O diário de Germana Cabral registrou bem mais que os 8 cadernos publicados no DN. "Uma das costureiras, a (So)Corrinha, chamou a gente pra casa dela, recitou cordel, o pai dela trouxe almoço, a gente saiu de lá era mais de 3 da tarde", conta a editora. Outra história interessante aconteceu em Juazeiro, quando uma personagem ficava fica à espreita enquanto as duas jornalistas trabalhavam. "A gente tava na Ladeira do Horto, entrevistando a Dorotéia, quando aparece a Dona Rosinha. A gente chega na casa dela e a primeira coisa que ela faz é mostrar a foto com o Pedro Bial: 'Olha, eu já apareci no Jornal Nacional'". A costureira aposentada colocou seu vestido novo só para ser fotografada perto da estátua do Padre Cícero.
Os desafios enfrentados pela equipe não foram poucos, desde os prazos curtos, as estradas de barro, até outros mais pitorescos. "Você fica ligando, quando eu passar eu tiro o telefone e vejo". Tradução: só havia um telefone público perto da casa da entrevistada. E a campanhinha dele estava com defeito. "Foram 128 páginas, mas multiplique por 3", conta Germana Cabral. Havia também o cuidado de mostrar a realidade, sem banalizar a pobreza: "a gente tinha uma preocupação muito grande com a estética, que era de não 'produzir' a foto, mas de mostrar a Beleza, o Belo", afirma Cristina Pioner. Perguntada sobre a dificuldade de não repetir textos em um trabalho extenso, Cristina Pioner declarou que a solução era "a identidade de cada uma": "a Dona Nancy saía e olhava pro mar...é uma coisa que você vê todo dia, e começava a sair lágrimas dos olhos dela".
O resultado do trabalho foi além do projeto Mãos Que Fazem Histórias. Ou talvez a idéia não fosse apenas escrever notícias: "a gente queria mostrar que é possível muito mais", afirma Cristina Pioner. Várias artesãs tem ligado, agradecidas. Algumas estão recebendo um número maior de pedidos; outras são convidadas para exposições; uma professora de uma universidade estrangeira quer fazer um intercâmbio cultural com seus alunos no universo do artesanato cearense. "'Você mudou minha vida! Você mudou minha vida!', elas dizem. Essa é a melhor coisa que a gente pode ouvir", conclui a jornalista.
Confira as 8 edições no site do Diário do Nordeste:
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