quarta-feira, 19 de novembro de 2008

A COR NO JORNALISMO



O QUE É COR?

Biologicamente, cor é a resposta aos estímulos produzidos pela luz nos nossos olhos. É a variação de comprimento de onda, intensidade, entre outras características do emissor, dos reflexos, etc, que vai diversificar as cores. Nesse sentido, a cor é uma recriação do real, porque depende do organismo de quem recebe os estímulos luminosos. Alguém com problema de daltonismo, por exemplo, não enxerga as cores como as outras pessoas. Assim também alguns animais, como os gatos, que só enxergam em preto e branco.

Interessante notar que a cor real não é a cor que enxergamos. Um jarro é visto como sendo azul porque reflete a cor azul. Na verdade, sua cor é o laranja, porque ele absorveu o amarelo e o vermelho. Essas três cores são as cores básicas. A paleta de cores é formada pela decomposição da luz em diversas faixas de ondas, ou vibrações. As cores se classificam como se segue:

• Cores primárias: São cores que não se decompõem, as cores originais que geram todas as outras. (São três: vermelho, amarelo e azul).
• Cores complementares: Se complementam, formando o branco, como a combinação vermelho + azul esverdeado.
• Cores secudndárias: Produzidas através das cores primárias. Amarelo+ vermelho = laranja.
• Cores terciárias: Formadas a partir das cores primárias + secundárias.

O preto é simplesmente a ausência da luz.

COR E CULTURA

A percepção das cores não é apenas científica. Depende da região, do contexto histórico, da faixa etária, da maneira como as pessoas se relacionam com o mundo.Uma comunidade da extinta União Soviética foi estudada por Luria, um pesquisador russo. O grupo era formado por agricultores, e tinha uma percepção diferente das cores: eles as identificavam, isto é, reconheciam as cores através de objetos. Para eles, há a cor de dente podre, a cor de esterco de bezerro... Outro fato digno de nota é a cor que representa o luto, no ocidente e no Japão. Enquanto aqui usamos o preto simbolizando a morte, os japoneses se vestem de branco.

Mais do que diferenças na roupa, no vocabulário, etc, existem também diferenças invisíveis. Na China, o ideograma alfabético que representa a cor vermelha é montado com 4 ideogramas. Os 4 símbolos significam, respectivamente, flamingo, rosa, cereja e ferrugem, elementos que têm em comum a cor vermelha. Essa constatação, da montagem analógica do pensamento, pode ajudar a melhorar a comunicação com os chineses, e com outros povos de culturas diferentes – bem diferentes – da assimilada pelo interlocutor.

Não se pense, no entanto, que a descoberta de diferenças pode ser uma porta aberta para a padronização. A questão é bastante complexa. Luciano Guimarães, professor que realiza pesquisas sobre o uso da cor na imprensa, dá o exemplo: uma edição da Folhinha, suplemento infantil da Folha de São Paulo,com um poema de Haroldo de Campos trabalhado em um desenho em preto e branco, estilo dobraturas. À primeira vista, um desvio do padrão, que diz que crianças gostam de padrões vibrantes e coloridos. Estudando o assunto, Guimarães desenvolveu o Modelo Ontogênico das Cores, com quatro áreas semânticas: o mundo natural; o homem – a sociedade, a cultura, os sonhos, o mito; a produção - o artesanato, a indústria, a mídia; e o discurso – a geografia, a filosofia, a história, cada uma se relacionando dinamicamente com a outra.

COR E JORNALISMO



Na hierarquia informacional, a cor vem adiante das formas e do texto. É o primeiro elemento da página que captura, comunica e direciona o leitor, ou usuário, no caso da internet. A importância da cor, no jornalismo, tem suas peculiaridades, portanto, ela não pode ser usada da mesma maneira com que é nas artes gráficas. A cor é mais do um complemento ou adorno. É preciso conhecer mais do que regras de composição e contraste para utilizar bem a cor na mídia, tradicional ou eletrônica.

A COR NA PÁGINA NÃO É ESTÁTICA. Ela se relaciona com formas, grafismos, textura do papel, fotos. Devido ao número de variáveis envolvidas, seu uso não deve ser intuitivo, porém estudado e planejado. Externamente, há o problema da reprodutibilidade da cor. O software de edição de imagens e a impressora industrial trabalham com sistemas de saída de imagem bastante diferentes. Um utiliza o monitor eletrônico, outro usa papel, ou tecido, ou plástico... Há que se pensar na luminosidade, na resolução baixa da maioria das telas, na opacidade do papel, no desgaste da tinta nesta ou naquela embalagem.


PRETO NO BRANCO

Ações positivas da cor
· Antecipaçao: a cor é o elemento que mais influi , que primeiro capta a atenção do leitor. Ela tem capacidade de antecipar o que virá a ser lido, direcionando o leitor para esse ou aquele jornal ou seção.
· Discriminação: ou diferenciação, que é a capacidade de caracterizar a página ou tema, de acordo com um repertório fornecido pelo veículo ou acordado tacitamente com o leitor. A cor causa mais contraste do que a forma, na diferenciação entre os elementos.
· Condensação: a cor resume a notícia, não como uma sinopse de um filme, mas como a essência do discurso.
A cor tem ainda a obrigação de garantir a legibilidade e a visibilidade do texto.

O lado escuro da cor
· Saturação: O uso excessivo das cores tira destas a capacidade de organizar a informação. A página ou embalagem vira um caos visual e textual. Tira também o significado das cores.
· Redução: Estereotipa a mensagem, muitas vezes esquecendo os valores tradicionais e culturais do leitor e enfatizando os valore$ do veículo. Simplifica ao extremo, tornando a cor bastante dependente do contexto.
· Neutralização: é quando peças iguais recebem tratamento diferente, e peças diferentes recebem tratamento igual. Além da deformação, o significado se perde , se confunde, e a variação de tons e de significados fica muito restrita.
· Maquiagem: é a manipulação da cor, ou da imagem, para que ela se torne análoga ao real.
· Deformação: não intenta se parecer com o real, mas criar uma realidade deformada, inventada. Pode ser benéfica, às vezes.


Fontes de Pesquisa:

As Cores na Mídia, artigo de Luciano Guimarães. PortaldoMarketing.com.br, acessado em 03/05/2008.

O Estudo da Cor para a Mídia, entrevista com Luciano Guimarães, Sinprorp.org.br, clipping Editor & Arte, acessado em 03/05/2008.

A Cor como Comunicação, artigo de Laura Ferraz, Artigos.com, acessado em 03/05/2008.

PIGNATARI, Décio. Informação, Linguagem, Comunicação. São Paulo: Ateliê Editorial, 2002 (p. 25 e 26).

COR NÃO É QUESTÃO DE GOSTO, É DE CULTURA. Frederick van Amstel.


imagem: 1. Henrique Diário
2. Arjun Kartha

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